Este blog é dedicado a todas as mulheres que procuram informação e orientação médica sobre os procedimentos médicos que são realizados para o bem-estar da região genital feminina.
Para que nossa sexualidade se desenvolva de uma maneira adequada, há que se gostar, há que apreciar a beleza do corpo humano, em todos os seus matizes e em todas as suas diferenças, com vergonhas e tabús, incertezas e até mesmo, angústias.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Himenoplastia: Religião ou Estética, respeito à decisão da paciente!

Falar de virgindade sem falar de religião e cultura é muito difícil. O himem sempre significou pureza, castidade. E não vamos somente às culturas orientais maometanas. A nossa cultura cristã determina a virgindade para religiosas como forma de casamento com Cristo.
É um assunto que mexe muito com o imaginário, o preconceito e a própria conduta pessoal de cada um.
Desconheço que a himenoplastia seja proibida em alguns países mas certamente isso deve acontecer em culturas africanas e muçulmanas, onde o controle étnico é imperioso.
Vários tipos de hímens
O que justifica, culturalmente a cirurgia? Há um livro bastante interessante sobre as “patricinhas muçulmanas” onde a virgindade é encarada de uma forma muito séria chamado Vida Dupla, da escritora Rajaa Alsanea.
Muitas religiões criaram normas rejendo o comportamento sexual humano. As normas da religião judaica estão no Velho Testamento e a cultura cristã adotou muitas dessas normas, adicionando outras conforme os ensinamentos das diversas igrejas. O Alcoorão é o depositário, por outro lado, da cultura muçulmana. Essas normas determinam que alguns tipos de comportamento são sempre errados e portanto, devem ser evitados. Todos temos o direito de escolher as normas segundo as quais pretendemos viver assim como praticar alguma religião. No entanto, quase todos compartilhamos a opinião de que um comportamento sexual egoista, destituido de afeto, é indigno. E isso não se aplica somente ao comportamento sexual mas a vida como um todo. O certo é que somos diferentes, temos necessidaes e maneiras diferentes de viver. Algumas pessoas têm um contato sexual com apenas uma pessoa durante toda a sua vida. E convivem muito bem assim. Outras podem mudar de opinião ao longo de sua vida e experimentar novas alternativas de relacionamento. O que acontece é que, em especial no Brasil, vivemos uma mistura de religiões muito grande o que propicia que a pessoa mude ou conheça pessoa de outra religião e adquira os aspectos culturais e normas sexuais dessa. E não podemos nos esquecer daqueles que não tem nenhuma religião. Talvez para esses, seja difícil entender como pessoas podem ser felizes vivendo os ensinamentos da Bíblia, da Igreja ao qual pertencem ou ao Alcoorão. O Concílio Vaticano II considera tais valores como como “carismas necessários à vida da Igreja” vivendo o celibato e a virgindade como uma “aliança na fidelidade criativa com o Criador”.
A verdade é que sexo não é uma coisa que a gente possa guardar dentro de uma caixinha e só tirar na hora de usar. O que fazemos do sexo reflete a nossa maneira de encarar a vida. O pesquisador americano Alex Confort diz que caso a nossa vida sexual não combine com nossas outras atitudes, com o que acreditamos ser importante e correto, dificilmente conseguiremos tirar o melhor proveito dela. A fé religiosa é uma maneira pela qual as pessoas tentam obter um modelo definido para suas próprias vidas, independente se se goste ou não.
Não acredito, portanto, que seja antiético realizar um procedimento como este. Não é minha competência julgar conduta religiosa de quem quer que seja, se dentro de padrões éticos e de respeito a vida. Mulheres que conheceram homens de culturas diversas da sua, que preservam a instituição da virgindade têm o direito de entrar pela porta da frente nestas culturas, mesmo que seja com o auxílio da ciência.
Alguns casais, com muitos anos de vida em comum, utilisam da himenoplastia ou de procedimentos outros penianos, para inovar na relaçao. Há uma carga midiática grande de “aquecer a relação” onde infelizmente, não é considerada a consulta a um terapeuta sexual antes de qualquer coisa. Entretanto, apesar de alguns casais que entraram para Igrejas Evangélicas e procuram a himenoplastia como parte da “recuperação” da vida “com Deus”, isso não é o mais comum em nossa cultura. O que acontece mais são mesmo jovens que conhecem homens de origem árabe provenientes de uma cultura irredutível em matéria de virgindade e que para entrar nessa cultura, devem se submeter a seus preceitos. A restauração do hímen passa a ser condição “sine qua non” para que isso aconteça.
Falando agora de maneira anatômica, o himem é uma membrana que circunda o intróito vaginal. Essa membrana pode não se romper, se grande em seu diâmetro ou se flácida, permitindo assim o intercurso do pênis. Isso, muitas vezes, ainda pode criar constrangimento.  Pode não sangrar em uma “segunda” primeira vez, apesar de mais fibrótica e isso provocar um sangramento maior, o que também é possível de acontecer. Por isso é muito importante saber o por quê na cirurgia. Algumas paciente acham, por outro lado, que com a himenoplastia deixarão o introito vaginal mais estreito o que não é verdade pois esse estreitamento depende da musculatura e de outras estruturas do períneo.
A restauração do himem é muito simples. Fazemos incisões em cunha nas abas que sobraram com sutura delicada entre elas e recomendamos atividade sexual 30 dias após a cirurgia. A dor pode acontecer de forma mais intensa que da primeira vez pela lesão ser previamente provocada.
                  O que não podemos esquecer é que a valorização da virgindade é um conceito pessoal e de tradição social ou familiar. Questionar isso é o mesmo que questionar a própria cultura à paciente.


E essa não é uma função médica!
Dr. Jorge Gioscia 
51 81778018
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